terça-feira, 16 de março de 2010

Masoquismo e Sadismo: Um "Evangelho"


Masoquismo e sadismo: um “evangelho”

Não precisamos imprimir um grande esforço para percebermos a grande distância entre a prática do Evangelho proposto por Jesus e a prática de muitas Igrejas que se autodenominam Cristãs.
Em lugar da fraternidade e do amor mútuo, encontramos autoritarismo e indiferença moldando as relações eclesiásticas. Essa conduta pode ser observada em vários locais - com suas devidas exceções - nos tradicionais, nos renovados, nos pentecostais, nos neopentecostais, nos ortodoxos, nos progressistas, e etc. Desta forma, percebemos que a proposta de Cristo em relação à liberdade que Ele veio trazer para as pessoas, como Boa Nova do Reino de Deus, fica comprometida. A integridade do ser humano nos moldes desse “evangelho” desaparece trazendo insegurança e um vazio existencial profundo.
Diante do vazio e da insegurança que em geral vive nossa sociedade, e com ela a Igreja, cresce o desejo de dominar e de ser dominado, ainda que esse sentimento seja confuso para algumas pessoas. Entretanto, sabemos dá existência de pessoas que tiram proveito dessa situação, e o que é pior, essas são muitas vezes líderes que influenciam outras pessoas, e fazem delas dependentes e/ou sem autonomia para gerir sua própria existência enquanto ser humano feito a imagem e semelhança de Deus, portanto amadas e amáveis.
Fazendo uma breve análise do significado do masoquismo, perceberemos que é uma conduta onde a pessoa foge ao insuportável sentimento de isolamento e separação tornando-se parte e porção de outra pessoa, que a dirige, guia, protege. Em outras palavras, a pessoa masoquista não tem de tomar decisões, não precisa assumir quaisquer riscos. Como diz Erich Fromm “não é independente; não tem integridade; ainda não nasceu de todo”. Por outro lado, a pessoa sadista é aquela que ordena, explora, fere, humilha. Contudo, um sádico depende tanto da pessoa submissa quanto esta daquela; uma não pode viver sem a outra.
Em uma relação entre masoquistas e sádicos a integridade de ambos está afetada. Assim sendo, o mundo não será o mundo da fraternidade, do cuidado, da responsabilidade e do amor, por que essas práticas não têm espaços no mundo da opressão onde habitam dominadores e dominados.
Por uma simples analogia percebemos nos tempos hodiernos algumas Igrejas masoquistas com pastores e pastoras sádicos, que proclamam um “evangelho” pautado na submissão e no autoritarismo doentio, onde a ilusão do cumprimento da missão é o combustível que faz mover a máquina destruidora da humanidade. Existem também, Igrejas sadistas com pastores e pastoras masoquistas cantando hinos que pensam louvar a Deus no cumprimento do Evangelho, mas que na verdade proclamam um pseudo-evangelho que não é e não pode ser a Boa Nova de Jesus Cristo, mas sim, o estabelecimento de um reino que visa apenas amenizar o vazio existencial do ser humano, mantendo-o sempre no cativeiro.
É importante que as vozes abafadas por esse sistema cruel não desistam e não parem de anunciar o Evangelho de Cristo. Esse é baseado no amor, que ao contrário do sadismo e do masoquismo, liberta o ser humano do outro e dele mesmo, fazendo com que a integridade da pessoa seja respeitada. É claro que o respeito só é possível se a pessoa alcançou a independência, se puder levantar-se e caminhar sem muletas, sem ter que dominar e explorar qualquer ser humano. O respeito existe na base da liberdade. Como diz a música francesa: “o amor é filho da liberdade”, nunca existirá amor e liberdade no campo da dominação.
O amor, principalmente no Ocidente, precisa sair do âmbito do sentimento e passar para o campo da ação, da prática, do trabalho. O amor e o trabalho/ação são inseparáveis. Portanto, é preciso trabalhar para que a integridade e a liberdade das pessoas sejam de fato uma realidade nas Igrejas e por extensão, na sociedade.
Respeito, responsabilidade, cuidado, liberdade, integridade, desafios para uma Igreja que quer ser relevante e fazer com que o Evangelho do Reino de Deus, Jesus Cristo, amor, seja a base da práxis cristã. Que o único poder que prevaleça nas Igrejas e comunidades seja o poder do serviço, o poder do amor que liberta o ser humano das mazelas que descaracteriza a humanidade do humano.

Pr.Fábio Porto
1ª Igreja Batista de Rio Novo

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