Ana Cristina Nascimento Givigi (kIKI) PROFESSORA DA UFRB- CFP
Professora Ana Cristina Givigi (KIKI) fala sobre a homofobia e a discriminalização do aborto no Brasil.
1 - (LIBERDADE É O NOSSO PRAZER): QUAL A SUA OPINIÃO SOBRE A DISCRIMINALIZAÇÃO DO ABORTO?
Estimativas de 2005 diz que ocorreram 1.054.243 abortos no Brasil (Ipas, 2007). Dados do SUS mostram 223.350 internações pós-aborto no Brasil em 2006. São todos casos de cadeia? Não se trata de ser a favor ou contra a vida. Levado a esse espaço moral nunca discutiremos saúde pública e direitos reprodutivos. A maioria das mulheres nunca desejou fazer um aborto e enquanto elas são criminalizadas não se discute planejamento familiar e contracepção.
Os conservadores da igreja católica, principalmente, atrasam os processos democráticos e de desenvolvimento da autonomia. È a síndrome da Idade Média que não passa. O interessante é que são contra a descriminalização do aborto e contra os meios anticontraceptivos. Com isso, esta instituição que se pretende estatal, interfere por meio do lobby nas decisões mais sérias de um país. Posicionar-se pela vida, a meu ver, não é bem isso. O que se poderia esperar de um império?
3- (LIBERDADE É O NOSSO PRAZER): CONCORDA QUE A MULHER TENHA QUE TER O DIREITO DE DECIDIR SOBRE O SEU PRÓPRIO CORPO?
Todo ser deve poder decidir sobre seu corpo, contudo as decisões são contingenciadas pela história, pelos limites ontológicos do próprio ser. Decidir sobre o corpo é ter capacidade de normatizá-lo e produzir para si mesmo um repertório plausível. Obviamente, as mulheres devem ter o direito de ‘criar’ seu próprio corpo e decidir quais espaços ocupa por meio dele. Isso inclui a decisão sobre a sexualidade e sobre a maternidade que não são naturais.
4- (LIBERDADE É O NOSSO PRAZER): QUAL A IMPORTÂNCIA DA UNIVERSIDADE NA DISCUSSÃO DESSE TEMA?
A Universidade constrói conhecimentos a partir de uma relação de forças. Isso é produzir dados: selecionar de muitas variáveis aquelas que somos capazes de ver. Assim, na medida em possamos mostrar e discutir quantas mulheres morrem por falta de acesso às políticas de saúde; a não inclusão dos homens nos planos anticontraceptivos e que a maioria dos abortos acontecem em situações sociais de desemprego, baixa escolaridade e pobreza estaremos diante de uma mudança nas relações e no âmbito de uma universidade mais plural.
1- (LIBERDADE É O NOSSO PRAZER): A SENHORA É A FAVOR OU CONTRA A CRIMINALIZAÇÃO DA HOMOFOBIA, POR QUE?
Uma das formas de positivar a vida e as escolhas das pessoas é deixando bem nítido que você pode pensar e sentir o que quiser e puder, mas não pode projetar seus desejos e moralidades da forma que bem lhe aprouver. A homofobia configura essa projeção na medida em que viola o outro e o pune por ser o que é. Da mesma forma, garante um espaço público privatista, onde nem todos podem estar. Isso é crime contra direitos humanos, por isso deve ser tratado como tal.
2- (LIBERDADE É O NOSSO PRAZER): O QUE ACHOU DA DECISÃO DO TSF EM APROVAR A UNIÃO DE CASAIS DO MESMO SEXO?
Ainda que o casamento civil seja uma forma de tutelar a vida das pessoas e definir heranças é um direito. Essa decisão tardia deve-se à comprovação de que o Estado não é laico e é uma construção de relações de poder que envolve fluxos intensos de resistências e dominações. As pessoas devem decidir a quem se associar afetivamente, sem as objeções jurídicas. Se isso hoje é fato deve-se às resistências. Vencemos, portanto.
3- (LIBERDADE É O NOSSO PRAZER): QUAL O PAPEL DA UNIVERSIDADE PARA O COMBATER A HOMOFOBIA?
Não acredito em papéis, mas em encontros e planos que validam uma política de positivação da vida. Comecemos por pensar se nossos Planos Politico Pedagógicos, nossa postura na sala de aula e nossa linguagem inclui as pessoas e positiva suas experiências ao invés de injuriar a pessoa LGBTT. Pensemos se as políticas afirmativas se voltam para a diversidade sexual. Então, construiremos nossa postura que será tão disputada quanto qualquer outra que postule a diferença.
4- (LIBERDADE É O NOSSO PRAZER): TEMOS UMA UFRB HOMOFÓBICA?
Vivemos numa sociedade homofóbica, a UFRB (e a ciência) é parte dessa construção da naturalização da heterossexualidade, como se o corpo sexuado sempre tivesse existido. A homofobia não é só a agressão física; as outras formas de exclusão como a injúria, a dificuldade que as travestis e transgêneros tem de usar nome sociais oficialmente, a dificuldade de aceitação do gay não heteronormatizado estão também na UFRB. Temos muito ainda a viver.
Qual é o E-mail para contato com a professora Ana Givigi?
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