sexta-feira, 1 de abril de 2011

No Brasil, metade dos jovens morre à bala ; maioria pobre e negra

Wilson H. Silva :da redação do Opinião Socialista
 
Assassinato é a causa de 46% das mortes entre jovens de 12 a 18 anos; a maioria é pobre e negra
 
Um estudo realizado pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) transformou em dados estatísticos uma realidade já conhecida pela maioria das famílias que vivem nas periferias do Brasil: o assassinato é a causa de nada menos do que 46% das mortes entre jovens de 12 a 18 anos. Para ser uma ideia da dimensão exata desta tragédia, se nada for feito para mudar essa situação, de 2006 – quando os dados foram coletados – até dezembro de 2011, cerca de 33,4 mil adolescentes terão sido mortos.

Em termos nacionais e em quase todos os setores sociais da juventude, os homicídios estão à frente de todas as demais causas de morte nesta mesma faixa etária. As chamadas causas naturais são responsáveis pelo óbito de 25% dos jovens. Já os acidentes, correspondem a cerca de 23%.

Em tempos de gripe suína e outras epidemias que varrem o mundo, os números batem, de longe, a quantidade de mortes causadas pela maioria das desgraças que caracterizam a crise do sistema e significam, por exemplo, o absurdo que 13 adolescentes morrem, por dia, de forma violenta, Brasil afora.

Um ranking macabro

A pesquisa foi realizada pelo Laboratório de Análise da Violência da UERJ, junto com a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, a ONG Observatório de Favelas e pela Unicef, a partir de dados (evidentemente parciais) do Ministério da Saúde, coletados nas 267 cidades brasileiras com mais de 100 mil habitantes.

O estudo deu origem a um novo e tenebroso indicador social: o Índice de Homicídios na Adolescência (IHA), que calcula a probabilidade de morte por assassinato para cada grupo de mil jovens nascidos. Em termos nacionais, por exemplo, a média é de dois jovens mortos para cada mil.

O número pode até parecer baixo para os atuais padrões sociais, mas isso é um enorme engano. Na maioria dos países ditos desenvolvidos, o número se aproxima sempre de zero. Comparativamente, o número de menores brasileiros mortos é maior do que o de vários países africanos devastados por guerras e pelo total descontrole em relação a epidemias como a da Aids ou de regiões em que se enfrentam situações de guerra aberta.

Além disso, são muitas as cidades em que os números são, inegavelmente, assustadores. A situação mais grave está em Foz do Iguaçu (PR), onde quase dez a cada mil jovens morrem antes de completar 19 anos, uma situação diretamente relacionada com o tráfico (de drogas, armas e produtos importados) na Tríplice Fronteira.

Entre as cidades mais violentas, estão as localizadas nas regiões metropolitanas de Minas Gerais, Espírito Santo, Pernambuco e Rio de Janeiro, com uma média entre cinco e nove mortos por mil. Já nas capitais, as mais violentas são Recife (PE) e Maceió (AL), onde a média é de seis assassinatos para cada mil jovens nascidos.

Jovens mortos têm raça e classe

Como também, infelizmente, já era de se esperar, a possibilidade de um jovem não chegar à vida adulta, também é determinada por sua raça e sua classe social. A maioria dos jovens assassinatos são homens, negros, de baixa renda e pouquíssima escolaridade. Um garoto tem 12 vezes mais chance de ser assassinado do que uma mulher. Se for negro, a chance de chegar aos 19 anos é três vezes menor do que um jovem branco.

Além disso, um dos dados menos explorados pela imprensa ao divulgar os números nos parece um dos mais significativos para interpretarmos a pesquisa. O estudo revelou que são exatamente as regiões tratadas pelo governo e pela burguesia como polos de desenvolvimento regional, que concentram os maiores índices de assassinatos.

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo (22/7/2009), a coordenadora do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo, Nancy Cárdia, destacou que a maioria destas cidades, a exceção das grandes capitais, tem algo em comum: são regiões que passaram por processos de expansão recentes e caracterizadas pela precária estrutura urbana e de serviços, inclusive básicos, como moradia, educação e saúde.

Além disso, evidentemente, não podemos esquecer, também, que estes novos polos já nascem marcados pela precarização e superexploração do trabalho e têm sua população inflada pela contínua migração do campo, tomado pelos latifundiários e pelo agronegócio.

Obviamente, toda mídia deu destaque para o fato de que boa parte dos assassinados tinha alguma relação com a criminalidade ou consumo de drogas. Uma constatação não só tardia como também cínica.

Tardia, porque os atuais índices de marginalidade e criminalidade são resultados diretos da falência do sistema e das políticas neoliberais. Virar “avião” ou praticar pequenos furtos para sobreviver não são opções para um jovem negro de 14 anos de idade. Muitas vezes, este é o único lugar que a sociedade lhe reserva.

Cínicas, porque desconsideram o grau de envolvimento do próprio Estado (particularmente, suas forças repressivas, como as policias) tanto na criminalidade quanto diretamente nos assassinatos, através de justiceiros, chacinas, milícias, esquadrões da morte.







2 comentários:

  1. este artigo foi de estrema importancia para elucidarme alguns dados estatisticos sobre a violencia entre jovens no Brasil.

    ResponderExcluir
  2. Bem meu nome é Maria e trabalho com a juventude da Igreja Assembléia de Deus e não é um trabalho fácil manter esses jovens longe das influências das drogas e da criminalidade. Ainda tem tantos pais que não querem que seus filhos frequentem uma igreja evangélica por causa de preconceitos religiosos. Porém a partir desses dados eu percebo que vale a pena me esforçar para manter esses jovens dentro da casa do Senhor. Porque só lá eles experimentam a verdadeira liberdade! Com certeza usarei esta pesquisa para reforçar a importância da obediência as leis, aos pais, a Deus para que possam ter uma vida abençoada e longa na terra!

    ResponderExcluir